sábado, 16 de julho de 2011
O fim
O sol deixa seus últimos farelos de ouro sobre a terra, e o seu severo rosto, que sempre temeste, se abranda com os primeiros traços da noite. Não há ninguém mais no caminho e, se quisesses, talvez conseguisses alçar a mão e apanhar o fruto desta árvore. Mas não precisas fazer isso. A árvore, tão velha quanto tu és, te reconhece e faz cair com suavidade à tua frente o fruto que adivinhas ser o melhor que ela tem a oferecer. Tu o apanhas, grato, passas a mão carinhosamente nele, como se estivesses acariciando uma borboleta, e te sentas embaixo da árvore. Se tu e ela não estivésseis tão cansados, talvez se iniciasse uma conversa. Mas é hora de desfrutar a doçura do cansaço e do fruto. É o que fazes. De nada mais necessitas. No coração já não fervem como outrora teus sentimentos, sabes enfim apreciar a simplicidade das coisas. No teu rosto há algo que se poderia quase chamar de beatitude. Estás no fim do caminho e ele já não te parece tão áspero.
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