Comerciante por quarenta anos, pagou a universidade para os três filhos com seu trabalho, e o adjetivo que os amigos e os parentes usam quando se referem a ele é sempre o mesmo: honrado. Fechou a loja há um mês e foi atacado por uma tristeza funda e por uma repentina ânsia de fama. Não diz a ninguém, mas arrepende-se de nunca haver tido uma falência fraudulenta, de jamais ter protagonizado um escândalo, de não ter, como tantos outros, deixado sem emprego pais de família, de não ter mostrado um sorriso cínico e desdenhoso na tevê e nos jornais. E sonha, com uma satisfação que se desfaz quando acorda, que passa entre irados manifestantes que gritam "ladrão, ladrão, ladrão".
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