sexta-feira, 11 de novembro de 2011
O poeta
Se entre os excursionistas há alguém que revele interesses culturais, o guia - depois de mostrar o rio, que o folheto indica ser "o mais piscoso da região", e a famosa Cachoeira das Três Quedas, "inigualável por sua beleza" - passa pela Casa do Poeta, em cuja varanda, em dias de sol, pode ser visto, em sua cadeira de rodas, o homem que justifica o nome dessa atração turística à qual o folheto dedica duas linhas que exaltam o brilho da obra do ocupante da casa, "sonetista alexandrino de nomeada, cujos livros, de grande sucesso na década de 1980, se encontram na biblioteca anexa à casa". No último decênio, no registro da casa constam quinhentas e quarenta visitas, a maior parte delas forjada pelos dois funcionários municipais - o zelador e a enfermeira do poeta -, que nada sabem sobre a piscosidade de um rio nem sobre o volume de água que define uma cascata e temem o desemprego.
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