sábado, 19 de novembro de 2011
Questão de dois-pontos
Revisor - revisor de verdade, desses capazes de se separar da mulher porque um não concorda com o outro quanto ao uso da mesóclise - só se importa com fatos de um tipo: os gramaticais. Lembro-me de um desses revisores mostrando a outro a manchete de primeira página do Jornal da Tarde, décadas atrás. O título, em letras garrafais, como se dizia na época, era "Tragédia no mar; mil mortos". "Você viu que absurdo?", perguntou o primeiro revisor. O segundo concordou: "Caramba! Aí não era ponto e vírgula que deviam ter posto, o certo seriam dois-pontos." O primeiro chamou o segundo de insensível e desumano, dizendo que importante era o número de mortos, não a correção gramatical, e os dois quase se pegaram a tapa. O segundo fez carreira de revisor e redator em grandes jornais e revistas. Do primeiro não tenho notícia. Deve ter mudado de profissão e é provável que esteja, talvez com dupla personalidade, como convém aos heróis, salvando pessoas pelo mundo afora e adentro. Mas eu não o chamaria para acertar a pontuação de um texto, se precisasse.
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