Em janeiro ou fevereiro, um desses meses quentes, haverá um acontecimento extraordinário. Sem conseguirmos dormir, com a cama empapada de suor, eu e o outros trinta velhinhos ouviremos um cachorro latir do lado de fora do asilo. Ele nos chamará só por uma hora ou duas, mas ficaremos acordados toda a madrugada, aguardando que ele volte. De manhã, na hora do café, uma das freirinhas, ao ver nossos olhos machucados de sono, comentará: "Vocês parece que andaram na farra..." Sorriremos, mas ninguém revelará nosso segredo. À noite, esperaremos pelos latidos, mas o cachorro não voltará. Virão então os meses frios e dormiremos novamente como dormem os velhinhos de um asilo, sem ansiedade e sem esperança.
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