sábado, 11 de fevereiro de 2012
Amanhã ou depois
Amanhã ou depois, receio que possa não ter mais nada a vos dizer. Talvez não tenha tido nunca, desde o primeiro texto, há dois anos. Nesse tempo falei de amor, como se de amor soubesse. De literatura, como se a entendesse. Da morte, como se a desdenhasse. Sei hoje que tenho sido uma espécie de farsa, de fraude, que vossa bondade e boa educação se escusaram de denunciar. Foram cinco mil textos, quase todos lamúrias e queixumes. Como vos importunei. Como me arrependo. Em minha defesa, só posso dizer que me empenhei, nesses mais de setecentos dias, para vos apresentar alguma coisa bela, que me viesse de dentro da alma, bem do fundo dela. Não foi o bastante, creio. E agora me sinto vazio, vazio, todo vazio. Me repeti, me gastei, me exauri. Se não houver nenhum texto aqui amanhã ou depois, se não houver mais nenhum nunca mais, eu vos peço perdão, não pela ausência deles, mas pela falta de qualidade e brilho dos anteriores. Que o tempo antes gasto com a leitura deles seja dedicado agora a coisas verdadeiramente poéticas, como afagar um gato ou acompanhar pela janela como aquela nuvem clara parece brincar de fazer desenhos no céu da manhã.
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