domingo, 26 de fevereiro de 2012
Hoje não
Viu a Morte no ônibus. Sorriu para ela, ela retribuiu. Quando desceu, ela desceu também e o seguiu. Ele andou devagar, para que ela o alcançasse, mas ela também retardou o passo. Ao chegar ao portão de sua casa, ele fingiu dificuldade para encontrar a chave e ficou esperando. Mas ela passou por ele, disse "boa noite, Altair" e, sorrindo, fez um gesto, apontando o fim da rua. Ele entrou. A mulher estava na cozinha. De mau humor, ele disse: "Acho que alguém vai morrer hoje aqui na vila." Ela desligou o fogão: "Sabe que eu também estou com essa sensação de morte? Deus nos livre." Ele estava tão decepcionado que a mulher perguntou se tinha acontecido alguma coisa no emprego. Na hora de dormir, ele escancarou a janela do quarto. "Ei, você ficou louco? Com este frio...", resmungou a mulher, fechando-a. Ela logo adormeceu. Ele ainda esperou meia hora, mas dormiu também. Acordou de madrugada, com o barulho de um tiroteio no fim da rua, mas nem foi abrir a janela. Havia perdido a esperança.
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