sexta-feira, 6 de abril de 2012
Neste dia, com esta voz
Falo de coisas simples, de árvores, de flores, de uma bola chutada um dia na direção do sol com a pretensão de derrubá-lo, de um dedo apontado para a lua e da decepção de esperar a verruga que não veio. Falo da infância e do seu cheiro, dos pecados imaginados, tantos, e dos outros, tão poucos, cometidos. Falo do amor, mas do amor que aprendi com os poetas românticos, do amor devotado mais à renúncia que à fruição, do amor chorado e doído, mais concebido que consumado, do amor cheio de olheiras, do amor tuberculoso definhando satisfeito em seu martírio. Falo de coisas simples e de como eu as amei. Falo de lágrimas, de como eu as prefiro ao riso, não por escolha mas por imposição do meu destino. Falo de coisas simples, de coisas de que não falei no devido tempo porque não sabia como dizê-las. Por isso, talvez minha voz possa soar falsa, por eu falar não de sabedorias adquiridas, mas de anseios que me marcaram a alma desde cedo e que não consigo esquecer. Falo de coisas simples, de coisas de que devia ter falado quando jovem, com esta voz de agora. Falo de coisas que já não me pertencem, ou não deveriam pertencer. Falo dessas coisas todas imperdoáveis e, por ser hoje o dia que é, vos peço perdão.
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