quinta-feira, 12 de abril de 2012
O velhote
O sinal para pedestres abriu. O velho pôs o pé direito lentamente na rua, como se testasse a temperatura da água numa banheira. Depois, tão devagar quanto o direito, moveu o pé esquerdo, como se estivesse descalço e ali houvesse cacos de vidro. Foi aí que a moça de uniforme branco resolveu ajudá-lo. Manicure, ela estava atrasada, mas não podia deixar o homem atravessar sozinho a rua. O sinal para pedestres ficava aberto só meio minuto e, sem o auxílio dela, o homem ia ser um alvo perfeito para os carros dali a alguns segundos. Ela lhe deu o braço. Mesmo apoiado nela, ele parecia que ia desabar a cada passo. Quando chegaram ao outro lado, o peito dele chiava como uma cafeteira e a voz saiu como um suspiro quando ele disse obrigado. "De nada. Bom dia para o senhor." Quando ela se virou para retomar seu caminho, ele, já com melhor fôlego, perguntou: "Moça, sabe que você é bem gostosa?" "Olha, vovô. Quer saber? Vá pra..." A resposta dela não o abalou. Com um sorriso instantaneamente rejuvenescido, ele contrapropôs: "Eu vou. Eu vou. Não precisa mandar de novo. Mas vou melhor se você for comigo, minha delícia."
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