terça-feira, 22 de maio de 2012
Desblogando
Este blog - nascido, como quase todos os projetos humanos, do entusiasmo - estampou em 2010 seus primeiros textos, que somados atingem agora quase seis mil. Dediquei a ele aproximadamente mil dias de minha vida. Como se ele fosse uma criança, acompanhei seus tropeços, seus passos certos, os sorrisos que despertava, seus bons e maus momentos. Afligia-me quando não tinha com que alimentá-lo e também quando o alimentava mal. Referências a ele, algumas de países muito distantes, me deixavam cheio de orgulho paterno. De uns tempos para cá, venho tentando fazê-lo passar a impressão de ser simpático e sólido, como aparentava ser no começo, e, se ele perdeu essa aparência inicial, a culpa coube a mim. Não consegui mantê-lo como o projetei - um espaço que tratasse de literatura e pudesse de algum modo ser útil ou ao menos prazeroso para os leitores. Fui aos poucos deixando de cuidar, como deveria, da literatura em seus aspectos gerais e permitindo que meus rabiscos pretensamente literários fossem ganhando terreno. O blog acabou por se tornar uma espécie de muro das lamentações para mim, e era inevitável que os leitores fossem se afastando. Tentei ainda me desvencilhar dessa tendência egotista, mas sucumbi novamente sob o peso da infame versalhada. Devo admitir que, ao menos no momento, não tenho nada a oferecer a quem se dispuser a acessar o blog. Poderia preenchê-lo com citações de escritores que realmente mereçam o título, mas isso seria um subterfúgio, nada mais que isso. É hora de me escusar perante aqueles que seguiram o blog até agora e, para não continuar a ludibriá-los com literatices, dizer que ele não está propriamente extinto, mas que sua periodicidade não será mais diária, mas ocasional. Hora também de dizer que, por persistirem as circunstâncias que me levaram ao atual estado de espírito, é bem provável que os textos porventura colocados esporadicamente aqui venham a padecer do mesmo mal: o de serem meras confissões de um homem que não consegue - e talvez nem queira - livrar-se da tristeza, nem consiga torná-la, com o toque da arte, interessante para os outros. Do início de 2010 até aqui, o menino percorreu algum caminho e contou com a simpatia alheia. Que ele agora, já sem os encantos da primeira idade, quando ensaiar outros passos, desprovidos de graça, não queira chamar para si as atenções que não merece.
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