Lembro-me de uns meses em que, na infância, passei de cama com uma febre que era quase uma excitação sexual, uma entrega a uma doença que me possuía com uma doçura maligna e de que, quando me livrei, não foi com gosto. De tudo ficaram uns pesadelos, uns delírios que para minha desventura só esporadicamente voltam a me visitar. Meu amor ao masoquismo deve ter nascido nesses meses de compressas, injeções, murmúrios de crença e descrença dos que me rodeavam, orações e aqueles dias que eram sempre noites nas quais, pela memória que guardo, meu desejo era deixar-me levar ou ficar perenemente envolto naquela morna letargia.
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