sábado, 11 de agosto de 2012
Kama Sutra - XX
Ela sentiu um cheiro acre de desodorante misturado com suor. Sentada num dos bancos do ônibus, tirou por uns instantes os olhos da apostila e olhou para cima. Em pé, ao lado dela, segurando-se com os braços erguidos, um rapaz de camisa curta estava com as axilas ruivas e úmidas à mostra. Ela voltou à leitura. Era uma explicação sobre os verbos defectivos. Mencionava o verbo adequar e mostrava por que não se podia dizer nem adéqua nem adequa. Ela não tinha entendido bem a diferença entre formas rizotônicas e arrizotônicas e estava se concentrando nesse ponto quando o odor de axilas e desodorante chegou de novo, agora mais forte, às suas narinas, ao mesmo tempo em que alguém, pedindo passagem no corredor, empurrou o rapaz, fazendo-o encostar-se no ombro dela. O verbo adequar, ela leu de novo, era conjugado apenas nas formas arrizotônicas, isto é, aquelas nas quais o acento tônico, o acen totônico, caía não na raiz mas na, mas na desinência, não na mas na desi, na desi, nência, na desi, na desi, na desi.
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