sábado, 15 de setembro de 2012
A cachorrinha
No pórtão ainda estão as marcas das patas, a madeira rasgada pela aflição e pela ansiedade. Por uma semana o cão ficou ali, tentando, tentando. Jamais alguém o viu dormir ou comer o que quer que fosse. Uma noite choveu e ele talvez tenha bebido água da sarjeta. Morreu hoje de manhã, mas ainda por algum tempo, pela força do hábito, pareceu ouvir-se o som de suas unhas na madeira. Por cinquenta reais um homem comprometeu-se a ir jogá-lo bem longe. O cão agora não está mais na calçada e o passeador pode levar a cachorrinha da casa ao parque. Ela sai, tão fútil, tão tolinha, tão adequada a esta manhã de sol escancarado na qual, três quarteirões abaixo, num terreno abandonado, três meninos encontraram um brinquedo diferente: fazer pontaria e mijar num cachorro morto.
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