A morte nos seguia, e os vagalhões iam lamber o céu antes de se atirar sobre o nosso barco. Orientados pelos relâmpagos, os trovões nos atacavam com o fragor de mil canhões. Alguns de nós rezavam, outros amaldiçoavam Deus e - como efeito talvez das súplicas e das pragas - repentinamente se abriu sobre nós um azul límpido, como se tivéssemos acordado de um pesadelo. Éramos treze a bordo e isso foi há quarenta anos. Estamos todos vivos, ainda, os treze, mas, achacados hoje por incontinências urinárias, osteoporose e diabetes, gostaríamos de voltar para o barco e enfrentar, com outra sorte, a ira do céu e o rancor do mar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário