sábado, 24 de novembro de 2012
As máximas do marquês
As máximas do Marquês de Maricá, pseudônimo de Mariano José Pereira Fonseca (1773-1848), que foram mencionadas por alguns benevolentes críticos de sua época como dignas de lhe garantir um lugar na filosofia, ao lado de Rousseau, Voltaire e Pascal, são notáveis apenas pelo que têm de pungentemente simplório. Uma delas diz que nem todo fogo é benéfico e cita como exceção as chamas de um incêndio. Outras máximas são tão fracotas que rivalizam com as piores frases dos livrinhos de autoajuda. Esta, que está no Aurélio como abonação da palavra "alteza", é um exemplo de que o Marquês de Maricá não tinha nada de Rousseau, Voltaire e Pascal: "A alteza dos pensamentos anuncia a nobreza dos sentimentos." Frasista é o qualificativo que lhe cabe, e quem ler seu livro de máximas, se acreditar que elas têm alguma filosofia, encontrará em qualquer livraria centenas de obras similares, dessas falsamente profundas, que elevam à condição de lemas e de indesmentíveis verdades frases como aquela segundo a qual toda grande jornada começa com o primeiro passo. Livros que prometem acabar com a obesidade, com a depressão e com o vício do fumo estão abarrotados delas. Nelson Rodrigues talvez dissesse que uma formiga é capaz de atravessar com água nos joelhos a profundeza da filosofia do Marquês.
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