Augusto dos Anjos é sempre um espanto para quem o lê pela primeira vez - e até para quem o relê. Na sua época, enquanto os poetas, como sempre, exaltavam as flores, ele falava de vísceras, pus, pústulas. Seu mais famoso poema vai abaixo, extraído do livro "Eu e outras poesias", editado pela Bedeschi, do Rio de Janeiro.
"VERSOS ÍNTIMOS
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!"
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