terça-feira, 20 de novembro de 2012
O piegas
O piegas sempre me fascinou. Sempre amei a lamúria levada ao paroxismo, a tristeza agudizada, a dor chorada ao som de violinos. Sempre julguei que a beleza, para ser inteira, há de doer, há de machucar, há de pungir, há de cavar até que surjam as lágrimas. O piegas traz, na sua definição, a ideia de ridículo. Porque, quando a dor é a dor histriônica, a dor operística, a dor rouxinolesca, ela é isso: ridícula. Só Charles Chaplin - talvez mais uns três ou quatro - conseguiu, fazendo o mais desbragado piegas, torná-lo sublime. É esse piegas de Carlitos que eu amo, essa tristeza que não se envergonha de uivar, de morder as próprias mãos, de dilacerar-se escandalosamente, sem nenhum receio de que seu sangue possa ser considerado molho de tomate.
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