O velho poeta parnasiano estava lendo o último verso de um soneto de sua autoria quando espirrou e fez voar pelo auditório gotas de saliva e cintilantes vogais de sua chave de ouro. A parte de cima da dentadura cravou-se raivosamente no braço de um rapaz que segurava o
Macunaíma de Mário de Andrade; a parte de baixo, sem o mesmo espírito de revanche parnasiano, contentou-se em mergulhar no copo de água posto à disposição do poeta. Tentou flutuar mas, emaranhando-se nas doze sílabas da chave de ouro e no seu hemistíquio, foi ao fundo.
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