segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Escritor

É escritor. Deve ser isso quem há trinta anos escreve livros que alguém publica. Mas, se alguém lhe pergunta o que faz, o que é, ele diz ser outra coisa, a primeira que lhe vem à cabeça. Gostaria de mostrar mãos calejadas por um ofício qualquer, desses cujos resultados são palpáveis: um muro, um prédio, um jardim plantado. Um livro é também palpável, e ao mesmo tempo não é. Pode-se tocar a superfície de uma palavra? Mesmo quando se encontra com seus colegas, duas ou três vezes por ano, em eventos literários, não se diz escritor. Esse ser e não ser o suplicia. Às vezes se acha imaturo, às vezes julga estar praticando a asquerosa falsa modéstia. De qualquer forma, jamais entregaria, como fizeram hoje com ele, no final de uma palestra de vários autores, um cartão com um nome em alto-relevo e a palavra escritor. Ele olhou as letras, apalpou-as, e seu estômago imediatamente se contorceu como uma taturana submetida ao fogo.

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