terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Kama Sutra - LXXVIII

Sente-se numa teia. Muitos anos já se passaram, ele já perdeu a conta de quantos foram. Todo dia, desde o primeiro, e toda noite os fios finos balançam e ele pensa que chegou o momento. A aranha se aproxima. Será hoje, afinal, será hoje, ele acha. Mas o hoje nunca vem. Em todo esse tempo ele viu a aranha devorar tantos, tantos. A ele, porém, ela poupa e não se esquece de dar-lhe restos de alimento, para que sobreviva. Não sabe por que ela teima em mantê-lo - talvez ele tenha virado uma espécie de brinquedo -, mas sabe o que sente por ela, desde o começo, quando se enredou na teia, e espera, e anseia e implora para que finalmente ela venha, o enlace, o mate no instante agudo do prazer, e depois o coma lentamente, como merece ser comido quem por amor se entrega.

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