segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Kama Sutra - LXXXVIII

Não tinha nem uma foto dela. Só a lembrança - os braços gorduchos, a voz que arranhava a garganta, os cabelos de fogo e, mais que tudo, as coxas, jamais vistas ao natural, sempre adivinhadas através da calça jeans. Tinha também a imaginação e a mão, a mesma com que garatujava versos. Foram tristes as primeiras vezes. Numa delas, ele chorou no final. Depois foi modificando a figura que tinha na memória: afinou-lhe os braços, desenhou num deles uma delicada tatuagem, abrandou o timbre da voz quase até o sussurro, pôs mais sol nos cabelos e aos poucos conseguiu ver as coxas sem o brim. Alterada assim a imagem, ele já não julga estar cometendo um sacrilégio. Não sabe como seria se ela estivesse mesmo diante dele, mas na fantasia ela sempre lhe murmura doces e mornas palavras.

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