segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Se o amor te escolher
Se o amor optar por ti, esquece tua autoestima. Se te disseram que o amor é aquele sentimento que nos realiza e nos perfaz, te enganaram. O amor nos apequena, nos humilha, nos esmaga. Depois que nos escolhe, ele nos ignora. Eu nunca vi os olhos do amor. Tu viste? Ninguém os viu, nem verá. Ninguém sabe qual é a cor deles. Eles não nos olham também, depois da primeira vez, quando nos escolhem. Desde o momento em que somos escolhidos, pertencer ao amor é a nossa ventura. Tão docemente ele nos aflige, tão ternamente ele nos atormenta, que nós nos afligimos e atormentamos ao menor receio de um dia nos faltarem essa aflição e esse tormento. Se te disseram que o amor é diferente disso, e acreditaste, podes continuar com teu cineminha das quartas, teu teatrinho mensal, tuas leituras de folhetos para programar as férias à beira-mar, teus beijinhos protocolarmente estalados depois do café da manhã e teus carinhos contados, aqueles exatos que servem como aquecimento para o exercício noturno depois do qual vem o sono tranquilo dos corpos satisfeitos. Se te disseram que o amor é essa ginástica, e acreditaste, continua com ela. Mas, se o amor, o único que merece esse nome, optar por ti, prepara-te para a angústia da carne e da alma, para a solidão, para a cama revirada pela insônia, para as lágrimas que os outros, aqueles pelos quais o amor não optou, chamam de ridículas.
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