"Lauro?"
"Sim."
"Oi, Lauro, tudo bem? É a Letícia."
"Oi, Letícia, tudo, sim."
Lauro se lembra. Tudo começou assim, ou pelo menos foi assim que ganhou força. Ele passa os dias recuperando na memória o diálogo telefônico. E como se pudesse, tanto tempo depois, interromper ainda a história, diz "Oi, Letícia, tudo, sim" e acrescenta: "Olha, eu não posso falar agora. Estou saindo para pegar o avião para Kuala Lumpur. Vou ficar trabalhando dois anos lá." Diz isso - e é como se tivesse dito mesmo, tantos anos antes. Mas logo sente de novo falta do venturoso sofrimento que o mantém vivo, e reconstitui o diálogo: "Oi, Letícia, tudo, sim." E volta ao ponto em que começou a perder o controle sobre sua vida.
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