Carteirinha de sócio

Eu também gostei de ser manipulado pelo amor. Eu também gostei de ser enganado. Eu também engoli as mentiras, as meias-verdades, as ironias e os sarcasmos como se fossem mel. Eu também gostei de mentir para mim mesmo: não, eu é que sou maldoso, não pode estar acontecendo, ela não faria isso comigo. Eu também fingi não saber que estava reservado num canto, para que me usassem naquelas raríssimas ocasiões em que me chamavam para, como um cãozinho gracioso andando só com as patas traseiras, preencher um vazio qualquer (às vezes falham ao mesmo tempo os encontros, o face e o msn). Eu também fiz versos estropiados, eu também fui aquela carta inútil, sempre descartada. Eu também fui manso, tão manso, eu também levei muito tempo para perceber. Eu também vivo lembrando. Eu também sinto saudade de tudo.