sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
Kama Sutra - CXVII
É o terceiro dia da empregada. É mais nova que as duas anteriores. Deve ter cinquenta, no máximo. Sentado no sofá, de onde dificilmente sai, porque as dores de coluna o atormentam, ele vê que ela é como sua mulher disse: ordeira. Na véspera e na antevéspera, também começou pela cozinha e é agora - quando a mulher saiu para visitar a filha, como toda tarde - que ela vem arrumar a sala. Assim como ontem e anteontem, ela tira o pó daqui, mexe ali e, depois, dá um suspiro de cansaço e senta-se ao lado dele, que vê tevê. No primeiro dia ele quase não sentiu o contato dela. No segundo, ela se encostou mais. Hoje, no primeiro momento ele pensou que ela fosse sentar-se no seu colo. Parece que estão num daqueles bancos bem apertados de ônibus. Ela fala com ele carinhosamente, como se fosse sua filha, pergunta se ele está bem, se tomou os remédios. Suando de culpa antecipada, ele tenta lembrar aquela palavra, como era mesmo? Incesto. No primeiro dia ela perguntou sua idade e ele confessou, com tristeza: sessenta e oito. Ontem ela disse que tinha esquecido, perguntou de novo, e ele roubou nas contas: sessenta e quatro. Se ela perguntar hoje também, o que ele vai dizer? Isso ele ainda não sabe. Sabe que fazia muito tempo que não sentia esta quentura inquieta na coxa e também um pouco acima, onde ela mexe agora com a mão vagarosa, lerda, preguiçosa, como se não tivesse nada mais para fazer na casa, como se não precisasse ainda lavar a frente e regar o jardim. Talvez o que ele está sentindo já seja o máximo. Vai descobrir isso logo, porque a mão se movimenta mais rapidamente e já abriu dois botões da sua calça. Ele fecha os olhos e espera. Lembra-se de uma frase. Não tem nada a perder. Onde ela está sentada ficará pelo menos, como ontem e anteontem, o calor que depois ele novamente apalpará, com a mão cautelosa, como se ali tivesse estado o sol.
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