sábado, 16 de fevereiro de 2013
No jornal (Major Quedinho) - 18 - Amantes do copo
De 1960, quando entrei no jornal, até 1968, quando me tornei abstêmio, minhas vírgulas e crases foram todas movidas a álcool. Era uma característica de significativa parte dos revisores. O português Antônio Ventura e Mário de Melo eram, além de grandes conhecedores da gramática, bons copos. Ventura, certa ocasião, decidiu parar com aquilo. Ele trabalhava durante o dia numa editora e manteve-se sem uma gota de álcool até a noite. Já a caminho do jornal, passou pelo Mutamba, famoso bar na Major Quedinho, e, quase entrando no prédio do Estadão, parou e fez um autoelogio: "Ventura, tu és um machão, um homem de palavra. Mereces uma pinga." E foi para o bar. Mário de Melo, o Melinho, que também gostava de emborcar copos, uma noite foi traído (ou ajudado?) pelo cérebro e por um enrolamento de língua. Falava-se de sinceridade, de gente que mentia a propósito de tudo e a propósito de nada. Ele imediatamente declarou a que lado pertencia: "Eu sou sincero. Minha vida é um litro aberto."
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