quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
No jornal (Major Quedinho) - 32 - O arquivista apaixonado
Ele trabalhava no arquivo, era magro, mal-apanhado e tinha um rosto doentio, mas recebia diariamente pelo menos uma dezena de cartas de mulheres apaixonadas. Gostava de nos mostrar a extensão e a amplitude do seu fascínio. Envelopes com o carimbo de Campinas, Santos, Jundiaí, Sorocaba. Às vezes lia trechos que pareciam escritos por Julieta para o seu querido Romeu (este, por sinal, passou a ser para nós seu apelido). Ficávamos com inveja daquela amorosa colheita diária que ele fazia e, sempre que podíamos, lá estávamos no arquivo, cuja sala era vizinha da nossa. Perguntamos várias vezes qual era o segredo dele para provocar tantas paixões. Modesto, ele dizia também não saber. Até que um dia, no bar, um dos motoristas do jornal nos perguntou se conhecíamos o maluco do arquivo que sempre pedia a ele e a outros motoristas que colocassem, no correio das cidades onde entregavam os exemplares, envelopes que ele endereçava a si mesmo. Nesse dia, compreendemos que amansar loucos não era exclusividade da revisão.
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