terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Sylvia Plath e o haicai
A definição de poesia feita por Sylvia Plath leva a pensar numa das características do haicai, talvez a mais importante - a que vê o ato poético como um momento que não se repetirá jamais em seu estado puro, por mais fiel que seja a memória. O haicai é como um peixe, aquele único e insubstituível que o anzol apanha naquela ocasião também única e insubstituível. Essas considerações me ocorreram ao ler o artigo sobre Sylvia Plath, de autoria de Rodrigo Garcia Lopes, publicado ontem no Estadão, a propósito do cinquentenário da morte de Sylvia. Desse artigo foi extraído o texto que me propiciou as observações: "Poesia é uma disciplina tirânica. Você tem de ir tão longe, tão rápido, em tão pouco tempo, que nem sempre é possível dar conta do periférico." É, eu penso, apanhar o peixe ou captar o voo de um pássaro. O mar, no primeiro caso, e o céu, no segundo, são circunstâncias, quase acidentes. É o peixe, é o pássaro que importam. Se algo do mar e do céu vier com o peixe e o pássaro, que ocupe um segundo plano. Mar e céu, por sinal, são matérias-primas bem mais apropriadas para odes que para haicais.
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