"Esta é a hora em que um pobre cão faminto aparece e fica farejando a sarjeta vazia. Ele é tão magro que o corpo parece uma gaiola sobre quatro estacas de madeira. A cabeça magra, em triângulo, abaixada, e o rabo fino esticado. E acima e abaixo, acima e abaixo vai ele, silencioso e assustadoramente ávido. A rua o observa, de seus balcões cobertos de trepadeiras, de suas janelas abertas - mas a senhora gorda do andar térreo, que não é melhor do que deveria ser, disparou escada abaixo, com um osso. O rabo do cachorro, enquanto esperava por ela, batia no esteio do portão, como se fosse um cabo de vassoura. Os moradores da rua dizem que a mulher é louca, pois só uma louca se preocuparia em alimentar cachorros desconhecidos. Agora, ela jamais se livrará dele."
(Do livro Diário & cartas, tradução de Julieta Cupertino, publicado pela Editora Revan.)
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