Camões à moda da casa

Resumir clássicos, condensá-los, é dar, ao leitor jovem, a impressão de que o importante na literatura é o tema, a história - não o modo de contá-los. Transformar os dez cantos dos Lusíadas em oitenta páginas com ilustrações é chegar a um produto que certamente alcançará grande aceitação, proporcionará ótimo retorno à editora e talvez dê ao adaptador prêmios que Camões jamais ganhou com sua epopeia. Para a literatura, para o seu ensino, representará pouco, praticamente nada. Se lhes fizerem a pergunta, muitos leitores - talvez a maioria - dirão que o autor é o adaptador - digamos Jorge Peristáltico Júnior. Porque Jorge Peristáltico Júnior, escritor de obras infantojuvenis, é mais conhecido pelos jovens do que Luiz Vaz de Camões, tanto que seu nome aparece na capa do livro com muito maior destaque do que o de Camões. É uma aberração que talvez o tempo corrija, embora não seja descabido supor que futuramente, num vestibular, um dos leitores atuais diga que o imortal autor dos Lusíadas é Jorge Peristáltico Júnior, acrescentando, no esforço para melhorar a nota, que Jorge Peristáltico Júnior escreveu também O mistério da vaca malhada e Aventuras dos laçadores de pipas.