quinta-feira, 28 de março de 2013
Depois das...
... crises emocionais - não dessas que são um charmezinho, um jeito de atrair atenção, mas daquelas grandes, que atormentam e devastam - há um momento de trégua, em que nos perguntamos por que não é sempre assim. E vivemos alguns dias em que parecemos estar à beira de um lago, sem ruído nenhum, um lago de pintura impressionista, com o ar desmanchando-se em camadas tênues, pelas quais o pincel passou sem fixar-se. É bonança isso, paz, devaneio, bem-aventurança. Descansamos encostados a uma árvore e não sabemos se estamos dormindo ou acordados, só sabemos que é bom estar assim, à beira do lago. O pintor fez a tela para nós, como se a tivéssemos encomendado. É o tempo de recuperar as forças, de apaziguar o corpo e a alma. Dormimos. E, mal acordamos, irrita-nos a placidez, exaspera-nos o silêncio. Nosso corpo, como um viciado em drogas, volta a exigir a tristeza, o suplício, o tormento, e também a alma se eriça como o pelo de um lobo faminto. Se fôssemos sábios, nos atiraríamos ao lago e iríamos dormir no fundo, bem no fundo. Não somos sábios, e vamos buscar de novo a esquina sombria onde nos venderão o veneno certo para o nosso corpo e onde nossa alma aspirará a morrer queimada como uma serpente, contorcendo-se ainda em gozo, na sua última zombaria.
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