quarta-feira, 13 de março de 2013
Os bons-dias...
... como tudo na vida, envelhecem. Como estoques de suspensórios, de botões, de barbatanas para colarinho, vão saindo de moda, vão ficando na gaveta ou na caixa antiga, de papelão, outrora branca. Se aparecesse um dia um freguês para eles, nem se saberia que preço cobrar. O último item foi vendido pelo primeiro proprietário, um homem que há muito voltou para sua terra - não Portugal, como pretendia, mas o solo revolvido do cemitério. Na caixa em que os guardo, onde há muitas décadas esteve um sapato de verniz usado uma vez, na formatura do ginásio, tenho ainda alguns itens desses, que valem mais como curiosidade. Eu os estou enfiando aqui numa embalagem do velho Mappin, que sobreviveu à loja e às desgraças todas que sobre ela se abateram. Você deve recebê-los por estes dias. Não os enviarei por Sedex, não por economia, mas porque talvez as moças do correio precisassem chamar o gerente para autorizar o envio destas coisas suspeitíssimas. Você há de localizar logo os bons-dias, embora eles estejam já em mau estado e alguns sejam dum tempo em que eram utilizados em bondes, dirigidos a senhorinhas que sabiam costurar, tocavam escalas no piano e falavam um pouquinho de francês. Mando-os sem a desagradável menção ao fato de serem ponta de estoque. Guarde-os como o meu mais precioso presente - ou jogue-os fora, como quiser. Já há muito não sei o que pode agradar-lhe ou não, e esse tem sido o drama de minha vida.
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