sábado, 2 de março de 2013
Perspectivas - II
Já sentado no sofá - o bloquinho e a caneta de um lado, de outro o livro de Orhan Pamuk que conta uma impossível história de amor -, começo mais um dia. Até as duas da manhã, estarei à disposição da tristeza, como um zeloso funcionário. No livro de Pamuk, O museu da inocência, irei colhendo as lembranças de um homem que, não podendo ter a amada, segue-a a vida toda e vai recolhendo tudo que ela joga, pontas de cigarro, embalagens de balinhas, ou tudo que dela, bem-aventuradamente, lhe cai à mão, como um fio de blusa ou de cabelo. Guardaria também os suspiros, se suspiros pudessem guardar-se e se ela os desse na sua presença, mas ela jamais suspirará por ele. Todas essas coisas miúdas farão, um dia, parte do museu em que esse homem, como um menino colecionador de bolinhas de gude ou de figurinhas, mostrará o que lhe importou na vida e lhe deu sentido: o amor e sua busca, ainda que inútil. No meu bloco eu, com a minha canetinha, registrarei também, se vierem, coisas desse tipo, simples, tolas e tão importantes.
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