segunda-feira, 11 de março de 2013
Problemas do livro
Há uma frase, talvez tão antiga quanto o comércio, segundo a qual o freguês tem sempre razão. Levada ao ramo editorial, especialmente à área de literatura infantojuvenil, essa frase, na verdade um lema, tende a afetar - e já há muitos sinais disso - a qualidade dos livros. Depois que o governo, nos níveis federal, estadual e municipal, se tornou o maior comprador de livros do Brasil, as editoras, naturalmente, passaram a tê-lo como meta preferencial. O que esse comprador majoritário demonstra ou sugere querer é palavra de ordem e alvoroça editores, subeditores, ilustradores, todos os que trabalham na produção de livros. E, como a competição é cada ano mais intensa, os editores, além de fazerem o que o governo espera, se põem a imaginar projetos que possam também, por sua semelhança com os costumeiramente aprovados, entrar na lista oficial de compras. Aos escritores, ressalvando-se o caso de nomes consagrados, tem cabido, como fornecedores das editoras, cumprir estritamente o que elas pretendem receber. São comuns as encomendas feitas a autores, especificando item por item os "produtos" nos quais deverão trabalhar. Fora disso, ligar para uma editora e oferecer um livro é submeter-se quase infalivelmente a uma recusa sumária, ou a perguntas sobre assuntos, sentimentos e situações que hão de constar do original. Temas como solidariedade, amizade, ecologia, ausência de preconceitos devem estar presentes na trama - se possível, juntos. Essa mesmice de conteúdo pode explicar o sucesso que fazem no Brasil livros vindos de fora, que, desobrigados de andar nas trilhas oficiais, falam de magia, bruxaria, vampirismo. Uma literatura destinada simplesmente a exaltar bons princípios dificilmente escapa de ser enfadonha. Nossos livros juvenis, que se distinguiam dos estrangeiros, porque grande parte deles se fixava em problemas do cotidiano, agora estão focados exclusivamente neles, como se houvesse um só escritor produzindo livros nessa área. É a ditadura do paradidático. E a ficção vai descambando cada vez mais para o documentário.
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