Pelo menos não sequestraram
Pelo menos não estupraram
Pelo menos não mataram
Pelo menos deixaram os dois braços
Pelo menos não furaram os olhos
Pelo menos o menino não estava com ela
Imaginou só?
Além dos quatro ou cinco furtos sem violência, na base do upa, lá se foi a bolsa, foi a terceira vez que apontaram revólveres na cara da sua filha, que levaram o carro, os documentos, o celular, o dinheiro. Dizem a você que ela tem sorte e você, sem cinismo, reconhece. É verdade. Ela tem sorte. Muita. Os bandidos agora, quando assaltam, usam uma frase que não deixa nenhuma dúvida: "Você perdeu." É um ritual, um respeito às normas. Os nossos garotos, a nossa nova geração, são os ganhadores agora e fazem questão de nos avisar. É uma espécie de jogo: quem perdeu, perdeu. Alguns, por enquanto, têm ainda alguma consideração: não sequestram, não estupram, não matam, não arrancam braços, não furam os olhos, respeitam os meninos, principalmente se eles não estão lá. Não deixa de ser uma concessão. Mas é preciso ter sorte. Ser um eleito. Confiar em Deus talvez ajude, também. Aos poetas cabe a sensibilidade de cantar esses novos heróis que, com doze ou treze anos, já sabem ganhar seu pão desonestamente, como tantos outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário