"Agora vou pensar em você, querida, somente em você, a noite toda. Vou pensar somente em você, é a única maneira de me sentir, ter você no centro de mim como uma árvore, soltar-me pouco a pouco do tronco que me mantém e me guia, flutuar ao seu redor cautelosamente, tateando o ar com cada folha (verdes, verdes, eu mesmo e você mesma, tronco de seiva e folhas verdes: verdes, verdes), sem me afastar de você, sem deixar que o rosto penetre entre você e eu, me distraia de você, me prive por um único segundo de saber que esta noite está girando para o amanhecer e que lá do outro lado, onde você mora e está dormindo, será outra vez de noite quando chegarmos juntos e entrarmos na sua casa, subirmos os degraus do pórtico, acendermos as luzes, acariciarmos o seu cão, bebermos café, nos olharmos tanto antes que eu abrace você (ter você no centro de mim como uma árvore) e leve você até a escada (mas não há nenhuma bola de vidro) e começarmos a subir, a subir, a porta está fechada, mas tenho a chave no bolso..."
(Do livro As armas secretas, tradução de Eric Nepomuceno, publicado pela José Olympio Editora.)
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