domingo, 21 de abril de 2013
Como machuca...
... imaginar que um dia, sob um sol de verão, talvez possamos esquecer as lágrimas, as tardes longas sem notícias, os meses que se escoavam sem uma palavra recebida, os anos sem flores e sem frutos. Como nos dói imaginar que talvez nos olvidemos do dedo passando tantas vezes no mapa, tateando países exóticos, que talvez não nos recordemos da imaginação percorrendo aeroportos distantes, hotéis estranhos, rios sagrados de águas sujas, ruas orientais povoadas por homens tatuados caçando mulheres de pele branca e cabelos de fogo. Como fere imaginar que seja possível apagar da memória aquele nosso agudo desvario, que andava por índias, holandas e japões, enquanto nosso coração, encarcerado em São Paulo, olhava através da janela um horizonte de poluição, de chuva e de maus augúrios. Como machuca supor que um dia, sob a pressão incansável da razão, talvez possamos olvidar tudo, não achar na alma o sinal de mais nenhuma cicatriz e, quem sabe diante da própria terra onde o amor estiver sepultado, dizer com a voz cheia de odiosa maturidade: "Finalmente eu superei tudo isso."
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