segunda-feira, 22 de abril de 2013
Soneto sem cara de soneto
Não são só as pessoas que começam a se afastar de nós. Também as coisas sentem nosso cheiro azedo de velhice e zombam de nós, sempre que podem. Meu micro, este jovem objeto que me fita com desdém maior a cada manhã, tem me impedido de distribuir os versos de sonetos da forma usual, um por linha. Assim, este vai estropiado, com barras assinalando o final de cada verso. Tudo me diz, diariamente, que, se eu quiser ser poupado de indignidades maiores, devo ir procurando a porta dos fundos, ali onde se guarda o lixo até ser posto fora. Não sei se sou reciclável. Tomara que não.
SONETO DAQUELE AMOR
Tu bem sabes que esses poemas/
Em que eu o amor descrevi,/
Todos tiveram em ti/
A fonte comum e os temas./
Sabes que, enquanto os fazia,/
Pois viste quando os compus,/ Provinha de ti a luz/
Que nos meus olhos luzia./
Sabes que quando eu falava/
Do amor que me subjugava/
Falava do teu amor./
E sabes que nunca mais/ Vou fazer poemas iguais,/
Viva eu o tempo que for.
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