quarta-feira, 24 de abril de 2013
Tão fácil é, hoje,
... o amor! Mandar um e-mail e receber a resposta - ou receber um e-mail e responder... Tudo simples, sem a linguagem dramática das cartas antigas, sem a escolha de palavras, sem o começar, desistir e recomeçar de outrora, sem o riscar frenético, sem o rasgar implacável de versões trabalhadas e retrabalhadas durante as madrugadas que para o amor e suas desgraças se mostravam afavelmente mais longas. Tirar daqui um advérbio, por parecer exagerado, ler, reler cada trecho, e acabar repondo não aquele, mas um advérbio ainda mais apaixonado. Amada, minha amada, querida, meu mundo, meu ser, minha vida. E ficar assim, expondo o coração com a caneta arranhando o papel até o sol chegar e não se ter ainda, depois de horas, uma versão satisfatória. Era assim. Mesmo o início - amada, minha amada, querida, meu mundo, meu ser, minha vida - não estava definido nunca, e a carta acabava seguindo com a versão que, depois de enviada, se revelava, na leitura do rascunho, a mais fraca de todas ao coração aflito. Eram páginas e páginas que, no fundo, queriam dizer apenas o que estava na primeira linha: amada, minha amada, querida, meu mundo, meu ser, minha vida. Tão fácil é, hoje, prender-se na teia, tão fácil é safar-se: duas palavrinhas ou três, às vezes cruelmente abreviadas: tô nessa (na melhor das hipóteses), ou fui (na mais triste). Simples assim. O coração segue as regras da modernidade.
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