sexta-feira, 26 de abril de 2013
Volta sempre, humilhado
Volta sempre, humilhado, aos ideais renegados, aos hábitos antigos, ao amor amaldiçoado. Volta sempre, e o seu rosto já nem precisa de maquiagem. É um bufão, um palhaço reles, um atirador de farinha que no fim do teatrinho sempre está com o rosto mais enfarinhado que o do rival. Sente-se repulsivo, gostaria de vomitar na pia, olhando-se no espelho. E no entanto volta, e volta, e volta. Jamais teve um trunfo, jamais teve uma possibilidade, jamais teve um curinga na mão, jamais teve uma chance. Foi sempre assim, medíocre, e, nas vezes em que resolveu se apresentar melhor do que é, recebeu aplausos ainda maiores. Um palhaço de fraque, haverá melhor número para as plateias de bairro? Existirá melhor alvo para os ovos e os tomates que aliviam os espectadores e compensam os quinze reais do ingresso? Não tem mais esperança de nada. O leão parece mais velho que ele e não o devoraria nem se Deus estivesse num daqueles dias em que barateia a compaixão como se fossem batatas em oferta no supermercado. Ele está sempre de volta. Nunca ninguém o levará a sério. Se um dia meter um balaço no ouvido, rirão como nunca: "Ah, como ele é desajeitado, veja só. Que tirinho mixo, de espoleta molhada. E aquela massa de tomate ali! Nem escorre direito!" Ele voltou. Aos sábados e domingos o público é maior e é preciso dar alegria a quem trabalhou a semana inteira.
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