"Uma colega de repartição pública disse certa vez aos outros que eu tinha "boa índole", que tinha "berço". Eu cedia a precedência na porta aos mais velhos, apanhava do chão o papel que alguém ou o ventilador derrubava e principalmente ouvia o que os veteranos tinham para contar de seu brilhante passado. Boa índole já não andava na moda mas havia quem a apreciasse por ter sido desse tempo, e passei meus dias e anos desde então acreditando naquilo. Fui chefe, espécie de subgerente ou subeditor em empresas privadas, e me orgulhava de pensar que a boa índole me fazia incapaz, por exemplo, de demitir colegas. Ora, um chefe que não demite, não tarda que o demitam.
(Do romance Crime improvável, publicado pela Ficções.)
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