domingo, 2 de junho de 2013

Das rimas ricas

No tempo em que a poesia foi muito mais artifício do que arte, a obsessão pela rima rica foi o ponto em que mais se empenharam os poetas. Havia então, como fruto dessa extravagância, dicionários de rimas. Olavo Bilac preparou um, com Guimarães Passos. Dessa época restaram algumas bizarrices que devem ser consideradas menos como avanços do que como itens da arqueologia poética; cisne rimando com tisne, saudade com quem há-de, panteão com far-se-ão. Uma boa norma, para os jovens poetas que ainda simpatizam com as rimas, é evitar que coincidam categorias gramaticais. Não rimar substantivos com substantivos, adjetivos com adjetivos, e assim por diante. A não ser no caso da poesia dirigida ao público infantil, em que a rima óbvia e adivinhada talvez seja até desejável, o ideal é não fazer com a rima uma música mecânica e previsível, uma batida de tambor de uma banda colegial.

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