quarta-feira, 26 de junho de 2013
De repente, anteontem,
eu estava no fim da tarde em Ribeirão Preto, andando no rumo que, segundo as indicações, me levaria a um posto Ipiranga onde poderia recarregar o celular. Desconfiei estar perdido quando os vinte minutos de caminhada já tinham passado de uma hora. Finalmente vi o posto, do outro lado da rodovia. Atravessei-a como um maluco invocando o suicídio como direito. Chegando ao posto, descobri que nele (possivelmente o único no Brasil) não se fazia recarga de celular. Voltei a andar, recarreguei finalmente o celular num Atacadão e, assim que saí dele, uma chuva dessas que parecem movidas pela ira divina me apanhou. Com a camisa e a calça encharcadas como panos de chão, dois sapos coaxando nos sapatos e os olhos embaçados, pus-me a tentar achar o caminho do hotel. Fui xingado, advertido, ridicularizado, andando no meio dos carros e das motos e - como se pode supor - cada vez mais me distanciando do caminho certo. Minha identidade, no bolso da camisa, ficou borrada, quase se desmanchou. Houve um momento em que, para castigar minha burrice, comecei a atravessar sem nenhuma cautela as ruas e avenidas. Durou três horas e meia essa odisseia e nem preciso dizer que no fim dela, já milagrosamente chegando ao hotel, vi pelo menos meia dúzia de lugares onde poderia ter feito a recarga sem precisar andar como andei. Enfim, resumindo: salvei-me. Deus zomba de mim, me faz pensar que logo estarei livre de mim, mas me puxa sempre, quando já esboço o sorriso dos bem-aventurados.
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