domingo, 22 de setembro de 2013
Sei como são...
... inconvenientes, e ridículos, estes meus gritos da alma. Devo ser um homem do século 19, deixado misteriosamente para trás pela passagem do tempo. Quando me ponho aqui e começo a escrever, esta pieguice toda vai amontoando palavras com uma rapidez que não consigo acompanhar no teclado. Tudo jorra como se estivesse escapando da gaveta de um mau poeta romântico e vindo diretamente para os meus dedos. Não escrevo; transcrevo. E, no entanto, sinto que sou eu quem escreve. Sou eu quem sente isso tudo. Seria covarde lançar nos ombros de um defunto estas coisas que me acometem, estes espinhos que me ferem e me fazem berrar aqui, como um menino afastado da mãe. Sou eu, este, sim, embora eu me pareça cada dia tão mais insano que a tentação de usar o recurso da terceira pessoa se torna quase uma imposição. Quando sou possuído por estes delírios, sinto-me eu. Talvez os delírios tenham algo de artificial. Este artificialismo, então, serei eu, também. Nestes momentos, sinto que minha contribuição, se houver alguma, será menos para a literatura que para a psicanálise. Se bem que, por mais que me exponha e exiba despudoradamente minha alma, nenhum alívio me advenha disso. Sinto-me sempre pior, como agora.
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