"Há muitas maneiras de contar esta história - como muitas são as maneiras que existem para relatar o episódio menos transcendente da vida de qualquer um de nós. Eu poderia começar narrando aquilo que foi, para mim, o final de um caso, e que, para um outro participante dos fatos, pode ter sido apenas o começo. Não vou nem dizer que a terceira pessoa envolvida naquilo que vou contar seria incapaz de distinguir o começo do fim daquilo que ela própria viveu. Optei, pois, por relatar, obedecendo à cronologia que a sorte me trouxe, a minha própria experiência. Esta talvez não seja a maneira mais interessante de conhecer uma história de amor tão singular. Desde que a ouvi, tive a firme intenção de contá-la a um grande mestre da arte de contar as coisas que acontecem com a gente. Mas como não foi possível lhe contar pessoalmente, rejeitei, de imediato, a ideia de aventurar-me por caminhos, atalhos e meandros que não domino e, neste caso específico, nem seria aconselhável tentar trilhar, e resolvi escrever a história da maneira mais sensível e direta possível. Tomara que a minha falta de habilidade não faça com que se perca o encanto do doloroso e extraordinário fascínio despertado por um amor que, de tão transitório e impossível, guarda semelhanças com algumas lendas inesgotáveis que nos enfeitiçam há séculos, de Príamo e Tisbe a Marcel e Albertine, passando por Tristão e Isolda."
(Da novela A última escala do velho cargueiro, tradução de Luís Carlos Cabral, publicado pela Editora Record.)
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