sexta-feira, 25 de outubro de 2013
A coleção de minha amiga
Há algum tempo dei pela falta de minha tíbia. Procurei-a em toda parte, como vocês podem imaginar. Já a dava por irrecuperavelmente perdida quando minha amiga me convidou a visitá-la. Recebeu-me com a delicadeza de sempre. Absorto em contemplá-la, porque assim exige sua beleza, quase não olhei para os objetos daquilo que ela chamou de pequena exposição sentimental. Havia ali o olho de um cornaca indiano, a orelha de um marujo neerlandês, uma graciosa ponta de nariz de um dançarino cubano, um par de sobrancelhas de um curador de arte internacional e os miolos de um filósofo que, morto precocemente de amor, não pôde concluir sua monumental obra em dezessete tomos. Havia uma infinidade dessas reminiscências românticas. Ela pediu que olhasse para um dos objetos em especial. Chorei de emoção. Era uma homenagem inesperada. Como sobressaía, como ficava bem, no meio de tantas preciosidades, minha humilde tíbia de fracassado poeta polonês.
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