segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Contabilidade amorosa
Hora de fechar as contas de mais um dia. Quando se tem só um tema em estoque (o amor), é muito fácil: oito ou oitenta. O amor é assim: vive só nos extremos. No meio fica a mediocridade, que é amor só com muita condescendência. O morno não combina com o amor. O morno é um embusteiro, cheio de rapapés e reverências. O morno é a caixa de bombons, a entrada para o teatro, o ingresso para o show de Paul McCartney. O morno é decidir se não será melhor mudar de sexta para quarta o jantar semanal e a rapidinha no motel. Às sextas, nos restaurantes e nos hotéis, todo mundo quer comer tudo, todo mundo quer traçar todos. O morno é dizer eu gosto, eu também, temos tantas afinidades, Leão e Libra sempre se deram bem. O morno é pegajoso, o morno é desagradável como apertar a mão de um homem que acaba de sair do banheiro, ainda mexendo na braguilha. O morno é dizer obrigado, obrigada, depois do ravióli e da bimbada. O amor não deve ser assim, não pode. O amor há de ser oito com gosto de seis, de zero, de nada, de porra nenhuma. Ou há de ser oitenta, e oitenta não quer dizer açúcar nem mel. Amor oitenta é morrer de ansiedade, ficar esperando no lugar combinado e, cinco minutos antes da hora, pegar o celular e dizer onde você está, puta merda, você não me respeita, você não me ama, você não vê que eu estou morrendo por você? Você é uma vaca, você é um viado, você é um filho da puta, e você o que é? Amor é isso, embora jamais se vá ler uma coisa dessas num livro da Glorinha Kalil. Amor oitenta é um sofrimento gostoso, único, uma danação de todos os infernos. Amor oitenta é antropofágico, é vontade de engolir todo o ar em volta de quem se ama, é engolir quem se ama, é incorporar quem se ama ao nosso sangue. Amor oitenta é privação, provação, amor oitenta é sofrer pra cacete. Então, qual foi o amor de vocês hoje? Não, não, assim não vale. Eu perguntei primeiro.
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