sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Furacão Pris
Desarrumaste minha vida. Já não conheço minha casa, minha casa já não me conhece. Teu amor derrubou minhas portas e escancarou minhas janelas com um furor de cinco graus e meio na escala Moskevitch. As fotos da sala - da primeira comunhão, da classe no primário, do terninho de marinheiro, do casamento, da turma da revisão no jornal - saíram voando. Instintivamente apalpei o peito. Lembrei-me então de que tinha dado já o coração a ti em certo dezembro. Encontrei a alma, bem escondida ali na estante, entre os livros de Rilke e de Roth. Antes a tivesses levado, também. Ela dia e noite deplora talvez a última oportunidade que teve de se juntar ao coração, que guardas entre teus pechisbeques e escalpos.
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