segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Kama Sutra - CDXVII
Ela enfia a calcinha. Põe o sutiã. Cantarola. Dá três rodopios pelo quarto, valsando, bolerando. Coloca-se agora dentro da saia. Mais três rodopios antes de cobrir o sutiã com a blusa. Por uma fresta da janela, o sol acompanha tudo, com a respiração presa. Solta-a devagar, num suspiro. Ela ouviu um rumor e vai até a janela, para fechá-la. Desconfia que a venham espionando de um apartamento no prédio da frente, com um binóculo. Toda manhã vê uma luminosidade furtiva querendo entrar no quarto. Já com a janela fechada, tira os seios do sutiã e os reacomoda. Está ficando gorda outra vez. Ou mais gostosa, como diz o amante. O sol vai esperar um pouco por ali, até que ela entre no carro do homem que vai buscá-la toda manhã. Bom era o tempo em que não havia insufilm. Ele imagina o que acontece lá dentro. Já conhece um bocado da vida. Lembra-se dos dias em que ficava olhando para dentro do quarto de Greta Garbo, Marilyn Monroe, Brigitte Bardot. Um astro gosta de estrelas. Mesmo um astro já meio decadente, como ele. Precisa se cuidar. Anda muito sentimental ultimamente. Nota isso mais uma vez, enquanto vê o carro se afastar.
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