"NOTURNO DA FOLHA DE SÃO PAULO
Na rua Barão de Limeira,
bairro de Campos Elíseos,
caminhões descarregam
imensas bobinas de papel.
Assombrado por sombras
pisoteio jornais da véspera:
párias, travestis, mendigos.
Tutankaton mija na sarjeta.
Livre da carcaça da simpatia
(Ó doces píncaros de classe!)
a chuva reúne a ralé da raça:
Godot desplugado do século.
Soterrados na própria chacina
no excremento da experiência,
áspera mão de obra reciclada:
sobra, apara, margem de erro.
Capturado pelos acontecimentos
vi a máquina do mundo triturar
todas as vértebras da madrugada.
Não houve tempo de pular fora."
(Da coletânea Esses poetas - Uma antologia dos anos 70, organizada por Heloisa Buarque de Hollanda, publicada pela Aeroplano.)
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